Eu sonhei.
Manhã de sol forte. Blusa branca até os joelhos, calcinha preta. Pernas de fora, corpo trêmulo. Cabelo em coque, alguns fios caindo no rosto, franja cortada em retalhos que mais pareciam raízes. Nas pernas tinta lilás salpicadas, e alguns tons de verde bandeira e musgo. Cheiro forte de essência que saia dos poros. Cheiro de pele molhada pelo mar e exposta ao sol.
Um quadro branco de uns 3 metros por alguns outros mais. Metros e metros de uma energia dilacerante. Como se a alma precisasse de tinta pra reagir. E qualquer expressão fosse pequena pra retratar o quanto precisa exprimir e extender e perdoar através da arte.
Pinceladas desconexas, algumas gotas de suor se misturavam com algumas outras poucas lágrimas que escorriam no rosto, no pescoço, entre os seios. Mistura de prazer com purificação, tesão, medo, saudade.
Sabia o que fazia, pra onde ia e o que queria. No sonho, sabia vomitar e perdoar. Entendia o porquê de sentir, nas entranhas, uma força renovadora e intensa. Sucumbir entre verdades e gozo, entre palavras com sentido e sentimento de amor próprio.
Jogar tinta no chão, no branco, no corpo, escorrendo pelos dedos, pêlos, na ponta de cada vontade encoberta, nas vísceras e nos vícios, no batimento acelerado do peito, desenhos em forma de suplica, de autopunição, de lealdade e amor.
Uma luz azul saindo da barriga e do ventre uma chama.
Olhos de verniz.
Língua colorida.
Coração acrílico.
Língua colorida.
Coração acrílico.
Aonde está a liberdade?
Aonde está a transparência?
Aonde está a coragem desse quadro?
Vontade de comprimir o corpo na tela e ser pendurado na parede.
Ser contemplado com desconfiança e ternura. Como se um pedaço de carne pudesse apodrecer entre tinta, lágrima, prazer, felicidade e verdade.
Ou amadurecer diante dos teus olhos.
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