quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Rua dos bobos

Quartinho dos fundos com teto caído e porta quebrada.
Sem condições alguma de entrar, ver o estrago, fazer a faxina
e tentar consertar alguma coisa.

Se é que sobrou;
poeira nas minhas janelas.
Como cômodos.

As pessoas poderiam adornar nossa estrutura, feito cômodo de uma casa. Mobília de gente. Adereços, penduricalhos na porta principal. O tempo quem deveria dizer a hora de trocar o estofado, ajeitar o pé da mesa, mudar a posição da estante. Mas não, a gente faz das pessoas parede. Porta e piso inteiro. Às vezes endereço da nossa própria casa. E tem gente que invade o nosso terreno ou vice-versa. Sem-teto. Com amor?

Terraço, varanda, quintal;
lugares favoritos.
Nem sempre abertos
por causa do balanço, do ventinho,
do sentimento infantil.

Mudo, criado.
Quarto com goteiras de paciência, desilusão
e rachaduras nas vigas.
Uma parede pintada de sorte.

Pessoa abajur, tapete, travesseiro, cobertor, colchão, cama. Deita, se tudo faz sentido, se existe um porquê de estarem aqui.
Copo, tigela, prato, taça, pirex, concha, panela, colher de mesa, colher de sopa, colher de chá?
Televisão, geladeira, fogão, ar-condicionado, falta de ar.
Pia, vaso, creme dental, escova dental, toalha, ali... espelho.
Closet.
Sala de jantar, de estar – onde?
Entulhos, garagem.
Sete degraus acima, apaga a luz;
sótão.
Interfone: “Oi, sou eu, de novo, invadindo sua casa”.
Pessoas-objeto:
corredor estreito,
fome, cozinha,
colocar tudo numa despensa.
(Dispense)
...
Vou ali no banheiro, me esquecer de você.
Retrô (masô?). Objetos antigos e espaço pra eles entrarem. Empoeirados. Às vezes não funcionam, só decoram. Ornamentam a memória.
Guarda roupa, guarda cheiro, toque.
No primeiro, no segundo andar.
Num lugar superior, de janelões.


Tranca a porta e fecha a cortina,
porque do que adianta tanta mobília?

Nenhum comentário: