quarta-feira, 12 de maio de 2010

1,58m


Hoje, sem querer, mas sem me surpreender, senti uma coisa agoniante. Tentei de todas as formas não transparecer; esfreguei uma mão na outra, sorri com o canto da boca, desviei o olhar, fiz piadinhas, falei banalidades. Mas, pra mim, era impossível não enxergar e, ter o desprazer, de conseguir medir a distância - ou a consequência que a distância (não importa em que âmbito se encaixe) sinalizava.

Das poucas vezes que encarei, foi um olhar tão profundo, que se pudesse ter boca eu devoraria. Uma trena de 3m saindo dos olhos e entrando num vazio assustador. Parece piada de mal gosto, mas por um momento, involuntário, ter a sensação de medição foi ensurdecedora. Meias palavras ficaram presas até agora. Desnecessárias, pro momento, óbvio. E seria até ridículo se elas - as palavras, tivessem saído naquela hora. Elas iam se perder no vácuo, como uma melodia repetitiva e cafona.

Mais incrível é que; não era uma coisa que saía de mim. Meu disfarce todo não era descontrole, era incredulidade. Como assim - eu - que respirando demonstro, e peço, e mentalizo, e sinto, e quero, e espero, aquela coisa toda colorida e enfeitada da proximação, de ligar os elos, de criar os laços, de fazer pontes entre o aqui de dentro e o de lá de fora... como assim, eu me vi nessa encruzilhada entre suplicar/querer estar perto e enxergar repulsa?

...

Foi tão estranho (dolorido) conseguir medir essa distância entre mim e a outra pessoa. Ter noção é uma coisa, imaginar e deduzir também. Mas sentir cada poro do seu corpo se arrepiar, cada palavra não-dita querer gritar, todas suas energias boas irem ao chão e você ficar só - um saco cheio de nada - na frente de uma projeção irredutível. Cheia de si, de pontos nos 'ís', de desvios.

Toda a minha fragilidade estava ali, no outro. Todo medo, insegurança, vontade de fugir, de desistir, de jogar tudo pro ar e voltar a ser um só. Serumsó, refletido no outro.

...

Eu tinha noção do tamanho daquilo tudo. Porque também sentia, de alguma forma, ou porque era preciso (?) sentir o sentir do outro. E poderia ter caído na real, ter saído do transe, ter enrolado a fita e parado de medir. Mas cair na real é, exatamente, saber que: pessoas, sentimentos e escolhas...
não se medem.

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