segunda-feira, 28 de setembro de 2009

sobre sensações

Algumas estão aqui, dentro, desde que me entendo por gente. Ficam cutucando, crescem e amadurecem comigo, junto da minha personalidade, anseios, desejos. Negativas, às vezes. Medrosas. Confusas. Com prioridades irracionais, débeis. Sensação que transpira, máscara na cara. Outras que embrulham o estômago, amargam a boca, arrepiam a pele, enchem os olhos.


Estou cansada delas. Das antigas sensações que permeiam todo imaginário. Das antigas sensações que dormem e acordam comigo, me chegam ao ouvido, zunindo, zunindo, ânsia e calafrio na espinha inteira. Estou aprisionada por elas, sempre estive - nunca notei. Tornou-se uma parte tão própria, que apenas deixei que existissem, sem intervenções, sem afligi-las. São por si só - imbatíveis.


(Do que adianta tê-las? Tô ressacada dessa maré que vem e volta trazendo e deixando resquícios de vontades, arranhões no corpo todo, nojinho – por serem tão íntimas, de estarem a milímetros do meu nariz e não estarem perto de mais nada).


Pra piorar, amiga das antigas, são as novas. Aquelas que chegam cheias de informações deslumbrantes, principalmente se trazem consigo um mix de adrenalina, perigo, travessura, desespero. Refém por senti-las, por tê-las, por ser dominada por suas opções, pelo que querem, pelo que esperam de mim. Se estou frágil, bêbada, apaixonada, tepeêmica - me arrastam pelos cabelos, por golpes de sorte, de carência afetiva, de bulimia sexual - até. Se estou forte (?) me consomem até a última gota, sóbria com uma seta na mão, antenada, corrigida, alerta. Só uma parte ínfima de mim não se descontrola. Meu perfeccionismo alto, unido com minha baixa estima e uma pitada de racionalidade ridícula. 25% de tudo que sinto, e só.


(Do que adianta senti-las? Esperar que se consumam, que se distraiam. Que abram a boca pra rir e vomitar por excesso. De quê? Sensação de que mesmo? De domingo febril ou de segunda-feira ingrata? De esgotamento físico ou deslocamento emocional? Sentimento selvagem de possuir. Postura falsa, encardida. Prazer autêntico, mas maquinado).


Se pudesse, revirava todas essas velhas e mocinhas, diabólicas e ingênuas sensações. Peneirava e ficava com as migalhas mais espertas, secretas. Seria mais interessante ter domínio sobre toque, olhar, cheiro, palavra, lembrança... Seria menos ofensivo/sufocante.


Se pudesse, usava todas em um único momento, com a mesma intenção, sem precisar ir embora, desligar a ligação, fechar os olhos e virar pro outro lado, soltar do abraço, tirar a mão do cafuné, sem precisar mudar de assunto, evitar aproximação, falar palavrão, soltar os cachorros e todos os passarinhos daqui do peito.


Reclamo de barriga cheia,

e boca vazia.

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