sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

TUDO


Sempre reclamei das coisas.


Porque acordei, meu cabelo ondulado, o tom de voz que usaram pra falar comigo, a falta de tempo, o ócio, as coisas que deixei de fazer, o dinheiro que não tenho, o encontro que não chega. A falta de sorte no amor. As coincidências azarentas. Meu perfeccionismo. Por ser caçula e mulher. A ponta do lápis que quebrou, a disciplina que não consegui pagar, a viagem que não fiz. O corte do cabelo que não ficou bom, o quarto que nunca consigo arrumar. O livro que não comprei, que não terminei. A música que não ouvi. A grosseria que fiz. Por ter me estressado. A ligação que não chega. A conta do celular. A conta do cartão. A festa que não fui. A nota que tirei, o trabalho que deixei de fazer. A pouca bebida, a embriaguez. A lucidez. Porque não cheguei na hora, porque desisti, porque não falei, não fiquei calada, não beijei, não pedi desculpas. Por ter mentido, porque ter sido infantil, pela ingenuidade. A força da expressão. A explicação pra tudo. As cobranças mal feitas. Os trecos que não consigo jogar fora, os e-mails que não consigo apagar, as mensagens que não consigo esquecer. Minhas unhas grandes, os refrigerantes que tomo, o tamanho dos meus cílios. O meu bocão. Meu medo e covardia. Minha ironia e desalento. A fra(n)queza, a (in)dependência, a (ir)racionalidade. Meu pessimismo. As minhas pernas finas, minha perca de memória. O descontrole. O excesso de realidade. A subjetividade. Minhas dores viciantes. Meu emocional fálido. As lágrimas que não vêm, as histórias repetidas, a falta excessiva. Minhas palavras cruéis, minha auto suficiência. Minha ausência. Silêncio e saudade. As entrelinhas. A foto que não tirei, o abraço que não dei. As palavras que não foram escritas, os textos nunca revelados, o olhar que desvia. O orgulho. A minha perca da naturalidade, a cara de braba, as mãos que tremem. A dor nas costas, a cólica. Minha imaginação. A falta de exercício. A numerologia, a espiritualidade. As pessoas que preciso esquecer. As coisas que preciso desfazer. O sentimento que preciso doar. O horário. O fim do mês. O sono que não vem. A insolação. A falta de consideração. O excesso de amor. A minha solidão ocupada de razões.


Faço uma lista infinita e, ainda sim, não canso de reclamar... Só pra no final das contas não admitir que sou culpada, principalmente pelas coisas que amo.

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