terça-feira, 25 de novembro de 2008

1x1= 1

Não existe pretensão maior que se expor, em forma de confissão, a seu próprio ego e caráter. É uma das coisas mais dificéis. É violento. Não vejo como forma de libertação, porque expor não significa libertar (em ângulos mais submersos), mesmo que alguma coisa antes presa, se solte e se propague. Falo dos labirintos que nunca foram percorridos, formas e percepções nunca antes experimentadas - existência da própria exposição.
Maior medo não é ser mal interpretada ou tachada de alguma coisa menor ou maior do que escrevo, conseqüentemente, do que sou. Porque não importa essa coisa entendível, na verdade, e, não quero tornar-me absolutamente compreendida, não. Afinal de contas, nem eu mesma, dona das minhas próprias exposições, sei o que faz sentido. Seria cretinice demais querer convencê-las. Meu medo é não conseguir parar de tentar transformar minhas convicções em exposições.
Um pouco de susto com as palavras que escapolem com a vontade de serem explodidas e desafiadas. Não sei porquê. Às vezes, muitas vezes, me sinto ótima e as palavras saem distorcidas, como se sempre, alguma coisa, de algum lugar, estivesse puxando pra baixo ou pro ataque. Mas que não signifique amaldiçoar uma vida que já é, por si só, do jeito que é.
Chega nesse estágio de limitação, como se fosse preciso responder e explicar à tudo, com tom e cuidados para não se tornarem maiores que o sentido.
Sei que é uma resposta artificial a mim mesma, como se pudesse pincelar esboços e mostrá-los a outros. Cansei dos traços, das cores, dos quadros na parede serem contemplados por outros olhos. Cansei de tentar dizer o que já está retratado ou de dizer sem precisar falar. Cansei do maciço da minha própria exposição vazia, onde o nada e tudo tem o mesma dimensão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ler o texto, um dia, para mim.
Sentir saudade das coisas antigas.